Na próxima vez que você sentar à mesa em uma reunião, repare ao seu redor. Seus colegas estarão checando o notebook, digitando nele ou enviando SMSs e e-mails
pelo celular, tudo isso enquanto alguém fala. Muitos de nós temos orgulho de
nossa proeza em sermos multitask, e vestimos isso com um crachá de
honra.
Ser multitask pode nos ajudar
a marcar mais itens-a-se-fazer em nossas listas de atividades. Mas isso também nos leva, por exemplo, a ignorar informações e pistas, e nos
deixa menos inclinados a reter a coisas do nosso trabalho, o que prejudica a
solução de problemas e o uso de nossa criatividade.
Na década passada, avanços em neuroimagem revelaram muito sobre como o cérebro trabalha.
Estudos em cima de adultos com Distúrbio de Atenção (ou ADHD, da sigla em
inglês Attention Deficity Hyperactivity Disorder) mostram como o cérebro foca
em alguma atividade, o que impede o foco, e o quão fácil é para o cérebro
distrair-se. Esses estudos vieram em uma época em que o deficit de atenção
espalhou-se muito além das pessoas com ADHD, incluindo aquelas que estão o
tempo inteiro ligadas no trabalho. A boa notícia é que o cérebro, pelo que foi levantado, é capaz de
ignorar distrações, permitindo com que sejamos mais focados, criativos e
produtivos.
Seguem, então, três passos para começar a melhorar sua concentração.
CONTROLE SEU FRENESI
Apesar de essa palavra, em português, ser usada geralmente
no sentido pejorativo, seu significado real é simplesmente estar fora de
controle, do "pouco ao muito". Isso pode se refletir em um mero
chacoalhar de pernas até um ataque histérico. As emoções são processadas em
nossa amígdala, que é uma pequena glândula em forma de amêndoa em nosso
cérebro. Ela responde de maneira muito intensa a emoções negativas, que são
consideradas sinais de ameaça. O mapeamento do cérebro por imagens mostra que a
ativação da amígdala por emoções negativas prejudica a habilidade de nosso
cérebro em resolver problemas, ou realizar outras atividades cognitivas.
Emoções positivas fazem justamente o contrário. Elas potencializam as funções
de execução no cérebro, e podem ajudar a abrir as portas do pensamento criativo
e estratégico. Podem, inclusive, ajudar na inserção social.
O que EU posso fazer?
Procure aumentar o equilíbrio entre emoções positivas e
negativas ao longo de seu dia. Barbara Fredrickson, uma famosa pesquisadora em
Psicologia da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, recomenda uma
taxa de 3:1 de balanço entre emoções positivas e negativas, respectivamente.
Esse número é baseado em um modelamento matemático aplicado em dinâmicas de
equipes consideradas "ideais", feito por Marcial Losada, colaborador
de Barbara. Este modelo também foi aplicado em uma pesquisa sobre casamentos de
sucesso.
Calcule sua "taxa de positividade" no site
www.positivityratio.com (site em inglês). Você pode domar emoções negativas
através de exercícios físicos, meditação, e dormindo bem. Fazer alguma dessas
coisas também lhe ajuda a perceber seus padrões emocionais negativos. Talvez um
colega de trabalho frequentemente lhe incomoda com alguma mania ou equívocos
crônicos, o que lhe leva a uma espiral descendente de aborrecimento. Perceba
que suas respostas a esses estímulos são muitas vezes exageradas, respire e
largue a irritação de lado. A respiração é uma ferramenta poderosa que ainda muitos
de nós ignoramos.
O que seu TIME pode fazer?
Inicie suas reuniões com assuntos positivos e humor. As
emoções positivas que isso causa aumenta a atividade cerebral de todos, fazendo
com que trabalhem em prol de soluções, juntos.
FAÇA PAUSAS
Seu cérebro escaneia continuamente os ambientes interno
(você) e externo (fora de você), mesmo quando sua atividade é o único objeto de
sua concentração. Distrações estão sempre à espreita: pensamentos
"desobedientes", emoções, sons, interrupções. Felizmente, nosso
cérebro é projetado para parar instantaneamente um pensamento aleatório, uma
ação desnecessária, e até uma emoção instintiva que lhe faça sair dos trilhos.
O que EU posso fazer?
Para prevenir distrações que sequestrem sua concentração,
use o método ABC como freio. Esse método significa tornar-se CONSCIENTE (Aware)
de suas opções: você pode parar o que faz para optar pela distração ou
simplesmente escolher que ela se vá; RESPIRE (Breathe) profundamente e
considere suas opções. Por fim, ESCOLHA (Choose): Paro ou continuo?
O que seu TIME pode fazer?
Procure arrumar na agenda de todos encontros descontraídos
de uma hora. Todos devem ser estimulados a contribuir com pensamentos
criativos, e distrações como notebooks, tablets, celulares e outros
dispositivos devem ser terminantemente proibidos durante essas
reuniões.
DESLOQUE SEUS SETS
Ao mesmo tempo que é muito bom poder estar focado em uma
atividade, às vezes você precisa mudar sua atenção para outro problema. O que
se costuma chamar set-shifting é nada mais que mudar seu foco totalmente para
uma nova tarefa, e não deixar para trás absolutamente nada da última que
você fazia. Às vezes é útil fazê-lo, para proporcionar ao cérebro uma
pausa e permiti-lo assumir uma nova tarefa.
O que EU posso fazer?
Antes de voltar sua atenção a uma nova tarefa, mude seu foco
da sua mente ao seu corpo. Vá caminhar, suba escadas, respire profundamente ou
alongue-se. Mesmo que você não esteja ciente disso, seu cérebro nesse
momento continua trabalhando nas tarefas anteriores. Às vezes novas ideias
emergem durante essas pausas físicas.
O que seu TIME pode fazer?
Agende uma pausa de cinco minutos para cada hora de reunião,
e incentive todos a fazer alguma atividade física em vez de correr para checar
o e-mail em suas mesas. Restaurando a função executora do cérebro, essas pausas
podem fazer com que todos tenham melhores ideias na retomada da reunião.
Organizar sua mente e as dos que compõem sua equipe trará
resultados sólidos. Aplicar uma "concentração de alta qualidade" é um
ótimo começo. Procure, por exemplo, fazer uma reunião que não seja
multitarefa e veja o que acontece quando todos direcionam suas
atenções ao assunto. Que tal?
Adaptado de Organize Your Life, Organize
your Mind, de Paul Hammerness e Margaret Moore. Hammerness é professor
assistente de psiquiatria na Harvard Medical School. Moore é fundadora e CEO da
Wellcoaches Corporation e co-diretora do Institute of Coaching no Hospital McLean.