domingo, 26 de junho de 2011

Business pelo telefone.

Dia desses eu entrei em um banheiro do Aeroporto de Congonhas, fazendo uma conexão, e havia uma fila de engravatados aguardando liberarem os boxes. Dentro de um deles, um carinha negociava ao celular, gritava, ria...Como se estivesse em sua casa. O que mais me impressionou foi que ninguém pelo menos esboçava uma risadinha com a situação. Tudo bem, todo mundo estava apertado, mas eu achei aquilo totalmente maluco! Eu ria sozinho! O cara negociava no celular e enviava um fax ao mesmo tempo*...






Experimente, se estiver de férias, ir no meio de uma manhã a uma padaria movimentada. A quantidade de gente produzida, fashion, que.acontece.com, com seus uniformes de super-heróis executivos e maletinhas de couro é enorme. É a hora em que o gel ainda está brilhando no cabelo dos homens, e o Dior comprado na viagem de fim de ano pela CVC pra Buenos Aires ainda exala fortemente das moças. São dois carinhas em uma mesa olhando um notebook; três em outra, com um deles falando alto, daquele jeito, ao celular - mais para os dois da mesa que pra pessoa do outro lado da linha. Lá no fundo, um solitário senhor de cabelos brancos, lendo jornal de papel, e não em um tablet, com um cafezinho abandonado pela metade. Com certeza pensando "Cara, ainda bem que me aposentei. Tá tudo mudado...".


Bom, montada a fotografia, quero dar uma boa dica a esses amigos life-is-short, so-let-me-make-more-money.

Já é lugar-comum dizer que todos negociam. Mas é interessante notar como isso tem acontecido cada vez mais à distância. Veja o caso da padaria. É gente pra cima e pra baixo e em todos os lugares possíveis carregando um celular, barganhando...Quem nunca ouviu algum engravatado, a quem darei o apelido carinhoso de Gordo Suado de Terno que Precisa Fazer um CheckUp, passando por perto e falando alto, como se o mundo fosse só ele e a outra pessoa do outro lado da linha. Melhor, do outro lado do mundo, pois geralmente um indivíduo desse tipo está gritando. "Não, fecha com cinco então, e dá o desconto".

Hoje muitos contratos são fechados também por e-mail - tenho um amigo que trabalha com websites e é quase sempre assim, tudo por e-mail.
Mas você já parou pra pensar o quanto é difícil negociar assim? Some tips for you, dude:

#1. Você não está vendo o que tem do outro lado! Imagine agora você, no meio de um trânsito caótico, precisando negociar pelo celular. E lá do outro lado, em uma confortável sala com carpete, cadeiras presidenciais, ar-condicionado e cheirinho da Le Lis Blanc, uma equipe de dois compradores, um gerente e um diretor olhando fixo para o telefone, no viva-voz, com um memorial de compras em mãos, cotações de concorrentes, e o histórico dos e-mails que você trocou com eles.
   DICA: seja sempre você o iniciador da chamada! Peça uns minutinhos, finja que está em uma reunião, ou simplesmente disfarce. Certa vez eu estava despreparado quando um cliente perverso me ligou. E eu divido sala com um colega que fala ao celular que nem o Gordo Suado de Terno que Precisa Fazer um CheckUp. O que fiz? Me aproximei do meu amigo, que falava ao telefone, e falei baixinho "Oi...tô numa reunião, posso te ligar já, já?". Foi o tempo que tive pra olhar e-mails, dar um telefonema, e assim vai. Em suma, seja sempre o iniciador da ligação. Quem a inicia tem mais poder de fogo.

#2. É mais fácil se distrair. Imagine só, a quantidade de coisa perto que pode nos chamar a atenção. Ainda mais para os multitarefas de plantão, que telefonam em frente ao computador, e deixam o outlook, o skype, o MSN e mais algumas coisas minimizadas. A gente definitivamente não nasceu pra fazer um monte de coisas ao mesmo tempo. Vá lá que as mulheres o conseguem com mais facilidade, mas isso não está na nossa essência. Li um livro recentemente chamado Por que Cometemos Erros, e essa é uma das maiores causas de nossos enganos. E a sociedade insiste para que o façamos cada vez mais. Se um indivíduo que tenta aumentar o volume do som do carro, olha o GPS e percebe que o celular está tocando bate o carro, o que vão fazer é aumentar o número de itens de segurança do carro, em vez de investir no motorista.
    DICA: foque na negociação. O computador não vai fugir, a pessoa parada à porta, esperando você desligar, pode voltar depois. A chance de fechar um bom negócio é uma só.

#3. Esquecemos facilmente as coisas. No livro que citei acima, citam-se estudos que mostram que o ser humano, pra se lembrar, precisa trazer significado a tudo. A rostos, a fatos, a nomes, rótulos.
    DICA: ANOTE TUDO!!!! Aliás, oficialize também. Mande um e-mail depois do telefonema, peça confirmação de leitura. Pra não ficar depois o dito pelo não dito.

#4. Ligue do skype. É mais barato. Hehe.

* Em tempo: segundo pesquisa recente realizada pela Insight Express and AdAge, 56% das pessoas nos Estados Unidos admitem usar o celular durante o #2. 70% delas telefonando, 62% enviando mensagens de texto.