sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cocriar

Peço desculpas pelo título sugestivo desse post... Mas eu tinha que fazer você lê-lo.

Bom, possivelmente você já ouviu falar no sucesso que é a Camiseteria (se por acaso estava em Marte agora nas férias, clique aqui). Imagine você mesmo bolar uma arte para uma camiseta, postá-la em um site em que você está cadastrado e concorrer a R$1.300,00 e créditos para compras no site. Mais ainda, lucrar com as vendas da sua camisa.

Vamos pra outra. Remetendo a Theodore Levvit, no seu artigo de 1960 sobre Miopia de Marketing, quando ele comentava sobre o porquê de as ferrovias americanas estarem perdendo seus clientes para concorrentes que eles nem imaginavam existir, eu lanço uma pergunta para você tentar responder antes de ler a próxima linha: Sabe quem está concorrendo com as montadoras de automóveis hoje em dia?

(tempo)

Bicletas?
Pense fora da caixa.

Transporte público?
Não, você ainda está dentro dela.

Caroneiros!!! Sim, gente que está na sua rota e que lhe interessa bastante - afinal, seus custos de transporte vão cair pelo menos à metade. Se ainda não conhece, clique aqui.

Outro caso muito interessante: o segmento de agronegócios da ITC, na Índia, criou os chamados e-Choupals ("choupal" em hindi significa ponto de encontro), que são quiosques onde agricultores se reúnem para discutir entre si e com a própria ITC sobre o setor. Informações como o clima e a safra lhes são disponibilizadas, e eles podem se queixar, sugerir, opinar e desabafar direto com a ITC. Gerenciando os quiosques estão agricultores com treinamento adequado, que inclusive fazem, muitas vezes, juramentos diante da comunidade de que serão servidores que trabalharão em prol de todos.
Se agora eu lhes perguntasse o que esses três casos têm em comum, você saberia me dizer rapidamente?

tempo...
Tá bom, eu ajudo.
Pessoas. Pessoas dos dois lados: empresa e consumidor. Aliás, não existem lados: isso tem um nome, tem sido estudado já há alguns anos e se chama COCRIAÇÃO.
Citei casos como esses para fugir dos "emblemáticos" como o da P&G, que há um bom tempo já trabalha com criação como um processo que envolve a cadeia de valor inteira. Hoje a P&G já fatura bilhões, junto com seus parceiros, graças a produtos criados conjuntamente. Você sabia que o Nivea Black and White foi criado dessa forma? Eles usaram o processo de netnografia (um trocadilho para estudos de etnografia, só que na internet), para levantar insights de consumidores em mídias sociais. 
O Google lançou, recentemente, uma campanha pela ideia mais criativa do Brasil. Quem ganhar, além de receber uma quantia generosa para startar seu negócio, ainda ganha uma viagem para os Estados Unidos para discutir diretamente sua ideia com a equipe de Marketing do Google. Vejam a campanha e um vídeo muito legal clicando aqui.
Recentemente, tive a oportunidade de assistir a uma palestra fantástica de um dos pioneiros e maiores fomentadores da cocriação no Brasil, Francisco Albuquerque - fundador da Agência de Cocriação (www.agenciadecocriacao.com.br). O conceito do modelo de negócio deles é fomentar a cocriação nas e entre as empresas, com laboratórios de formação de ideias e compartilhamento do conhecimento. O processo de inovação colaborativa que eles adotam tem como background profissionais com bagagem na área de Estratégia e Inovação, bem como a utilização do conceito de Design Thinking.


Nesse processo, o conhecimento, as crenças e valores de cada indivíduo, independente de seu expertise, é extremamente valorizado. David Kelley, o fundador da IDEO, disse em uma palestra que já está acostumado, em sessões de cocriação, a ver executivos se levantando e indo telefonar de seus blackberries. Ao perguntá-los aonde vão, eles replicam que "ah, isso é coisa da área de criatividade, não tenho conhecimento nessa área". E ele defende que todas as pessoas são criativas - é injusto dizer que criatividade é um dom e só a usa quem nasceu com ela. Todos temos níveis de criatividade, especialmente para atuar nas áreas com as quais nos identificamos mais.
É como o Francisco, da Agência de Cocriação, comentou na palestra: 

"as pessoas nem sempre pensam o que falam, falam o que querem, querem o que fazem e fazem o que se espera".

Se a sua empresa não fomenta isso nos seus funcionários, tampouco o fará fora, no mercado; não haverá interação. Sim, eu sei, você deve estar pensando que isso depende do modelo de negócio. Mas tudo depende do modelo de negócio, não?
A questão é: como encaixar a cocriação nele? Não dá mais pra negar a importância da participação coletiva nos processos de inovação, isso é algo latente na sociedade, e que estamos precisando com premência no Brasil.
Querem mais um exemplo do poder da cocriação? Agora eu não conto, apenas peço que entrem no link: http://labs.ideo.com/. Depois você volta pra cá.


Tudo bem. Se a IDEO divulga hoje essas ideias, isso acontece principalmente porque ela virou uma empresa de consultoria. Mas lembre-se que o medo de "copiarem" suas ideias é injustificável - pra isso existem patentes, contratos em parcerias, e tudo o mais. Estamos falando aqui de algo maior. Fazer as pessoas participarem do processo criativo e terem seus créditos no final, quando sobem as letrinhas. Estamos, vamos por assim dizer, no topo da pirâmide de Maslow hoje - por mais que tenham "dourado a pílula" e reinventado a hierarquia das necessidades ao longo das últimas décadas, não tem como fugir dela. O topo trata de realização e é isso que buscamos. Inclusive como consumidores.

Por fim, lanço mais um questionamento (wow, esse post teve mais perguntas que respostas, sei disso): o que falta, na sua opinião, para o Brasil abraçar a cultura da cocriação? Por que tem dado certo fora e aqui em tão baixa escala?


2 comentários:

  1. Olá Marcos, obrigado pelo apoio na disseminação dessa cultura.

    Vamos cocriar!

    Francisco Albuquerque
    Agência de Cocriação | Inovação Colaborativa

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  2. Francisco,

    nós que agradecemos!
    Forte abraço e até breve.

    Marcus

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