sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Líderes, gestores e dirigentes



Betânia Tanure, Doutora, consultora e professora da PUC de Minas desenvolveu pesquisas ao longo de alguns anos acerca desses três papeis no ambiente corporativo. Todos são essenciais, com suas peculiaridades, e difíceis de mesclar, mas necessários.

Enquanto que, para alguns, ser gestor é o mesmo que ser "apenas" chefe, e o ideal é ser líder, para outros gestor e líder devem ser a mesma coisa. 

Mas a diferença básica é que o gestor é a fotografia de uma posição oficial na empresa, é formalmente um chefe. Não "apenas" um chefe. Cabe aqui lembrar que quando se fala no tema liderança, o nome chefe  já traz consigo o estigma de algo negativo, do mandão, do tirano dominante que vai causando, com o tempo, o desestímulo dos funcionários.

                Ai caramba! Mim? Mim, chefe!


Mas é totalmente possível, aliás, necessário ser um bom gestor. A boa articulação e viabilização de estratégias, processos e estrutura fazem de um gestor um bom gestor. Este tem a capacidade de fazer a empresa crescer de maneira consistente, com um desempenho cada vez melhor, nas menores a nas maiores mudanças, baseado em indicadores, históricos, planejamentos, execuções. Se pudermos eleger uma palavra que case com esse papel, ela seria a Razão.

Entretanto, claro, há pessoas por trás disso. Pessoas tem aspirações, desejos, bom e mau humor, forças e fraquezas. E é aí que entra o papel do líder. Segundo a professora Tanure, o líder opera com a energia que mobiliza a empresa. Seu foco está na cultura organizacional, na liderança, na cultura. Tive, esses dias, a oportunidade de conversar com a diretora da linha de produção de uma fábrica de bebidas. Ela me expôs a dificuldade que é ter que conhecer funcionário por funcionário, trabalhar com metas diárias de produção e motivar do chão de fábrica aos gerentes. Sua vida corporativa é uma negociação crônica, uma resolução crônica de conflitos. Certa vez, ela perguntou a um funcionário se havia conflitos em sua área, se ele estava bem com uma situação de atrito que vinha acontecendo, ao final de uma reunião (daquelas que sugam o que nos restava de energia para o resto do dia). Ele respondeu "Não, tudo bem...Está tudo bem". E não estava - havia faíscas pulando pelo ar. Até hoje, depois de vários anos de trabalho com ele, ela tenta provar a esse funcionário que conflitos sempre existiram e sempre existirão, e não é por causa disso que ganhamos um inimigo por dia. "Marcus", disse ela, "a produção quer engarrafar as bebidas e a manutenção quer parar a fábrica. Isso já não é um conflito?".


E é justamente aí que entra o segundo papel, o do líder. Ele consegue canalizar a energia negativa desses conflitos em produtividade, ele motiva a equipe e faz com que as aspirações de todos sejam as mesmas dele. Isso envolve cultura, valores corporativos e muito, muito jogo de cintura.
"Líderes são legitimados pelos seus liderados", diz a professora Tanure.

Segundo pesquisas recentes que ela desenvolveu em conjunto com um grupo da Wharton University e com Sumantra Ghoshal, da London Business School, existem traços comuns entre os líderes, e que são frequentes em muitos países: 

1) Visão de futuro - capacidade de compartilhar sonhos e de criar significado para as pessoas; 


2) Credibilidade - o líder age inspirado em valores como justiça e gera confiança; relacionamento mobilizador - ao relacionar-se, tem a capacidade de mobilizar o coração e a alma das pessoas. Para obter isso um dos principais requisitos é a comunicação competente; 


3) Comportamento "agridoce" - gera sofrimento, mas ajuda a cuidar dele (atenção: não é o bate-sopra típico das culturas paternalistas); 


4) Alto grau de autoconhecimento - ouve sua voz interior, conhece e reconhece seus pontos fracos. Aqui cabe lembrar do papa da Inteligência Emocional, Daniel Golemann, que sempre prega isso em seus livros.


5) Ambição e sucesso - afinal, ninguém gosta de seguir gente malsucedida. 

Bom lembrar também que nem todos são líderes o tempo inteiro e em todos os lugares, pois isso depende dos valores, do contexto em que o indivíduo está e da dinâmica dos grupos.

Em suma, se formos eleger agora a palavra de ordem para o líder, ela seria, nesse contexto, Emoção.

Agora unamos Emoção e Razão. Esse é o Dirigente. Se em uma mão o líder arrebata pessoas, e noutra o gestor cuida da eficiência operacional da empresa, podemos dizer que numa terceira mão o Dirigente consegue somar, independente de estar ou não no topo da hierarquia, os dois.

Segundo a professora Tanure, "o dirigente não opera apenas na manutenção, na melhoria contínua. Nem mesmo na mudança radical seu foco é apenas estratégia, processos e estrutura. Tampouco está focado fundamentalmente na dimensão das pessoas, da liderança e da cultura. Ele vai muito além: reconhece o fluxo natural e o altera, com coragem, com garra, como exige o mundo empresarial de hoje. Tem um propósito claro, uma visão de futuro que ilumina suas decisões e ações. Ele assume os riscos".

Difícil, mas aplicável. Depende de prática, estudo com afinco de pessoas e processos, ser bom negociador, instigar, motivar, estar atento aos números... Claro, ter talentos nessas áreas torna tudo mais fácil. Mas  é crucial, na vida de um "líder-gestor", uma equipe modelada de forma que suas capacidades sejam aproveitadas para que tudo aconteça da forma que citamos nesse texto.

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